Ao longo dos anos, as democracias
maduras procuraram por em prática um conjunto de mecanismos que impossibilita a
instauração de regimes autocráticos, ditatoriais e fascistas. Se virmos o caso
concreto de Portugal, temos a clara separação de poderes (legislativo,
executivo e judicial) e a limitação de mandatos para o Presidente da república
(entre outros). Em França vamos um pouco mais longe, eliminando por completo a
representação de minorias no parlamento, devido ao sistema de eleições em duas
voltas. Com esse método o partido da extrema-direita Francesa (FN) consegue eleger apenas 2
deputados num total de mais de 500. Nos Estados Unidos, vamos ainda mais longe.
Os Pais Fundadores tinham medo de delegar ao povo a responsabilidade máxima de
eleger o Presidente, por isso implementaram o sistema de colégio eleitoral.
Desse modo, o voto americano é canalizado para o colégio, sendo esse o
responsável pela escolha do presidente dos Estados Unidos.
Como podemos ver, o povo está
protegido pela democracia. Mas a democracia estará protegida do Povo?
2016 é um ano negro para o que
representa a democracia e os seus valores. E a maior ironia parte precisamente
dos Estados Unidos, que consegue eleger um candidato antidemocrático através do
seu sistema eleitoral, pois não nos podemos esquecer que o voto popular elegeu
Hillary Clinton. A vitória de Donald Trump não tem nada a ver com a chegada do
messias que vem salvar o estado da economia americana, pois nesse aspeto, o
país conta com uma taxa de desemprego incrivelmente baixa e um crescimento
económico muito razoável. Não tenho dúvidas que o voto em Donal Trump resultou
da sua retórica Xenófoba contra o povo Mexicano e Islâmico.
O ano de 2016 não se fica por
aqui no que diz respeito ao abalar da democracia. No Reino Unido, consultou-se
a população para se aferir da sua vontade em continuar na União Europeia. Muito
rapidamente se percebeu que a questão fundamental não era essa, pois os
britânicos não queriam perder as regalias que oferece o livre mercado de bens e
capitais. Mais uma vez ganhou a xenofobia, pois o voto no sim representou a
vontade do povo britânico em fechar as suas fronteiras aos imigrantes.
Finalmente, quero relembrar que a
página mais negra da história da humanidade partiu precisamente de um acto
eleitoral democrático, a eleição para o Reichstag em Julho de 1932. Adolf
Hitler alcançou mais de 37% dos votos ganhando com o seu partido as eleições
que o lançariam no ano seguinte para Chanceler alemão.
Quando o próprio povo põe em
risco a democracia, afinal, quem a pode proteger?