Há menos de um ano vimos o Tribunal Constitucional (TC) chumbar o corte dos
subsídios de férias e natal aos funcionários públicos e pensionistas. Não
querendo aqui discutir as repercussões na política orçamental, nem no
impacto económico de tal medida, foco-me apenas na legitimidade de tal desfecho.
O TC socorreu-se, entre outros, do artigo 13º da Constituição
da República Portuguesa. Diz o mesmo na 2º alínea, "Ninguém pode
ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou
isento de qualquer dever em razão da ascendência, sexo, raça, língua,
território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução,
situação económica, condição social ou orientação sexual." Não querendo
promover uma fractura entre sector público e privado, questiono no entanto,
quem consegue ver igualdade entre esses dois grupos?
Começando pela remuneração. O funcionário público aufere um salário bruto
médio de 1.500,00€, enquanto que um trabalhador por conta de outrem obtém uma
remuneração média de apenas 1.000€ mensais (segundo dados oficiais - INE).
Trata-se de uma desigualdade clara e representa um benefício de 50%. No que diz
respeito ao horário de trabalho, existe uma clara vantagem para a função
pública, pois nesse sector a semana de trabalho é composta por apenas 35 horas,
sendo que os restantes trabalhadores têm que trabalhar pelo menos 40 horas. Ou
seja, no sector privado trabalha-se mais 14% do que no público. Mas a cereja no
topo do bolo surge com o tratamento diferenciado a saúde que gozam os predestinados
a funcionários públicos. Pois apenas com um desconto de 1,5% sobre o salário
bruto é possível o acesso a uma rede infindável de serviços médicos, apenas
comparável com a contratação de um seguro de saúde "premium". Finalmente, o ponto
mais alarmante desta desigualdade histórica entre estes dois grupos de
trabalhadores prende-se com o desemprego. Desde 2008 o número de desempregados
aumentou de forma exponencial à custa da perda dos postos de trabalho do sector
privado. Trata-se da pior desigualdade – a insegurança no emprego.
Não tendo sido exaustivo nas desigualdades, acredito que essas serão suficientes
para discordar com o acórdão proferido pelo Tribunal Constitucional.
Essa diferença de tratamento não valerá os subsídios de férias e de natal?
Afinal onde está a equidade?